É normal que os seres vivos busquem o conforto, busquem uma vida perfeita, busquem a paz. Ao pensar em como conseguir isso, achei facilmente a solução... Todavia, a solução prática não resolve os problemas. Somente esconde medos, anseios, esconde tudo de baixo do tapete.
Complicado viver num lugar cheio de problemas, não? Complicado assistir o governo lançar medidas e mais medidas que sabemos não resolver o problema dos menos favorecidos. Complicado vivermos num lugar onde egressos do sistema penitenciário não têm a mínima chance de (re) socializar. Complicado viver num lugar onde os meios de comunicação em massa poluem as mentes fragilizadas e expõem a suposta falência da capacidade individualizada do pensar. Complicado ver bebês jogados no lixo, ver animais maltratados, circulando pelas ruas sem os devidos cuidados. Complicado ver hospitais superlotados enquanto impostos enchem os cofres públicos. Complicado viver num país onde a contrapartida vem na forma de bolsas (escola, família...).
E eu tenho a saída para tudo isso! Tenho a forma de sair desse círculo da sociedade submissa e viver na tão sonhada paz...onde eu teria minha casa, meu emprego, um transporte público de qualidade, onde não veria animais abandonados, mendigos, crianças usando drogas no meio das rua, pedindo em sinaleiras... nada disso existiria! E eu viveria em paz! Até o fim dos meus dias neste plano terrestre. Existe um lugar assim... não é somente um lugar...vários lugares são assim... onde poderia viver uma vida de paz...longe de misérias, longe de coisas que meu olhar alcança e que machucam meu coração.
Escrevo este texto ao som de Clair de Lune, que, a meu ver, é uma das mais belas músicas já compostas. Uma partitura suave e simultaneamente complexa. Suas notas inebriantes deixam a melodia crescer de forma que nos deixa num estado hipnótico. É assim que vejo a sociedade. Em uma eterna hipnose coletiva. Meios de comunicação em massa ditam regras e a sociedade as segue sem questioná-las. Ditam padrões comportamentais e estes são modelados constantemente. A música que seguimos, a melodia de nossas vidas é suave e complexa...assim como Clair de Lune... mas é também hipnótica. E assim fica mais fácil lidar com problemas, fica mais fácil fingir que não existem. Encerremos então nossos cérebros numa linda melodia, sem deixar que notas descompassadas quebrem os arquétipos sociais. Se você ouvir com sua alma, verá que a intensidade das notas tentam quebrar sua hipnose. Mas seu conforto não deixa.
Questiono-me onde está o crescimento. Questiono-me onde este conforto me leva... Questiono-me onde chegaremos se continuarmos dormindo e fingindo que nada acontece lá fora. Será que este sono será tranquilo? Será que na hora que resolvermos acordar, não será tarde demais?
Citei que é fácil fugirmos das misérias. Mas porque estamos onde estamos? Porque fomos colocados nesta família, nesta cidade, neste país? Porque temos a oportunidade de vivenciar isto tudo que vivenciamos? Para virarmos as costas? Não! Definitivamente, não! Minha existência tem uma função. Eu vivo aqui e é minha responsabilidade fazer as coisas mudarem! Não sou eu quem tenho que mudar de país. É o país que deve ser do jeito que quero, mais justo, mais solidário.
As pessoas ainda não descobriram seu potencial. A sociedade acredita que precisa de alguém ditando regras. A sociedade acredita que uma hora as coisas irão mudar, mas não tiram suas bundas da cadeira para agir em favor desta mudança. A sociedade acredita que o país ficará melhor...um dia... e aguardam que como num passe de mágica o dia amanheça diferente.
Pois os dias são iguais... repetição de ciclos, repetição de padrões. O dia não amanhecerá diferente se você não mudar. Bom cobrar de políticos. Belos discursos são vistos diariamente. Mas o que fazemos efetivamente para esta mudança? Eu não conseguiria pegar minhas malas e sair daqui simplesmente porque outro país me dá as exatas condições de vida que busco.
Tenho que fazer o meu aqui. Tenho que fazer com que este seja o lugar ideal para mim, para meus filhos, para minha família, para aquele que vive lá no sertão, para aquele que vive das bolsas-escambau, para aquele que vive nas margens.
Cobrar simplesmente do poder público já não é mais a solução. Nós somos o poder. Nós somos o lado forte da nação. Não é aquela meia-dúzia de políticos cretinos que vivem no Planalto Central que irão ditar como devemos viver. Não! Nós os colocamos lá! Nós detemos o poder de tirá-los de lá! Façamos. Acordemos do estado hipnótico. Devemos sair deste conforto das quatro paredes que nos envolvem em nossos lares. Tiremos a bunda da cadeira e façamos algo! Fui! Porque alguém precisa de mim lá fora! Alguém precisa de você lá fora! Já!
Um comentário:
Concordo em gênero, número e espécie.
Infelizmente essa grande e bela nação, não tem a real percepção do poder que tem.
Se despendesse-mos 1/10 da força a qual usamos para reclamar do nosso time de futebol, direcionada para reivindicar aquilo que realmente a sociedade precisa, com certeza teríamos um país bem melhor.
Que consigamos dar não só voz, mas dinâmica aquilo que realmente importa.
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